segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aposentadoria

Vir para São Paulo era a possibilidade da realização de um sonho, não propriamente o de morar nesse estado, mas ter um trabalho com registro em carteira. Sabia que se ficasse a vida toda trabalhado como lavrador sua aposentadoria seria conferida como um trabalhador rural e o valor seria baixo. Enfrentou a  vida de um faxineiro em uma empresa, se submeteu às implicâncias de uma chefia mal-humorada, mas não desistiu e seguiu em frente em busca de seu objetivo: aposentar-se. Por isso se propôs a superar suas deficiências no conhecimento de "lidar com pessoas" e foi ser zelador de um prédio. Trabalhou à noite, foi assaltado, enfrentou perigos, mas tinha em visto um objetivo, um sonho: ser aposentado. Esforço recompensado.

Lidar com a terra

Lidar com a terra sempre foi a grande paixão de meu pai. Parece até contraditório dizer que ele não teve sucesso como agricultor. Nunca conseguiu comprar suas terras, seu grande sonho.
Quando se mudou do Paraná para o estado de São Paulo, veio morar em Sumaré. Veio doente, trouxe a família, fez tratamento, foi operado da úlcera. Quando se recuperou foi vender doce, bolo, pudim, pastéis e café que minha preparava de madrugada na porta de uma empresa chamada Minasa, bem na entrada no bairro. Tinha um objetivo e por isso precisava trabalhar com carteira assinada. Foi ser faxineiro, zelador. Mas nunca esqueceu sua paixão com a terra.

Alzheimer - Atos falhos

Sempre que nos reunimos (sempre foi assim), lembramos de fatos e acontecimentos que marcaram nossa história familiar. São recordações que nos levam a rir muito. Mas ultimamente, temos nos reunido mais para analisar essas lembranças e então surge uma pegunta: Será que tudo isso já era sinal da doença? Sinceramente? Não sei. Espero um dia ter essas explicações.
Bem, vamos às recordações. Me lembro e, isso desde menina as trapalhadas que meu pai fazia e que eram motivo de riso para nós (éramos crianças!) e constrangimento para ele. Certa vez, na hora do jantar colocou a comida numa bacia que usávamos para lavar o rosto, é isso mesmo, morando na roça, sem água encanada, usávamos uma bacia para a higiene matinal. Outra vez, ele pegou a concha como talher! Ao entrar num veículo, nunca achava a maçaneta para abrir a porta. No carro de duas portas é preciso levantar o banco para entrar, pois ele já tentou sentar no banco levantado, de costas para a frente do carro! E quando tenta entrar com a perna contrário ao lado em que vai sentar?! Coisas aconteciam e a gente achava que ele era um pouquinho atrapalhado, e talvez por conta de sua timidez.
Minha mãe conta que esse fato da comida na bacia já havia acontecido. Foi logo depois do casamento.
Esquecido. Sempre esquecia das coisas. Numa lista de dez, ele esquecia a metade. Essas coisas e outras que ainda contarei conforme as lembranças surgirem, são fatos acontecidos até os 60 anos. Depois vieram os esquecimentos mais constantes, começar uma história e não lembrar de lugares, pessoas; esquecer a própria história na metade e ficar triste e muito chateado por perceber que sua memória estava ficando cada vez, mais "fraca".
Nessa época, minha mãe o levou ao médico e ele deu um remédio para ajudar, além de recomendar exercícios físicos.

Alzheimer

Não sei se tem a ver com a doença, se ela se manifesta cedo, mas meu pai sempre apresentou esquecimento, a que ele mesmo chamava de memória fraca.
Vou relatar aqui o que está acontecendo a partir do momento foi diagnosticado Alzheimer.

Uma noite de outubro meu irmão Adilson, o segundo depois de mim, me ligou e muito assustado relatou o que acabara de acontecer na cada de meus pais. Ele simplesmente dizia que minha mãe era sua prima, que aquela casa não era dele. Queria ir embora para sua casinha que ficava lá para cima. Se recusava a ir para cama. Minha mãe e meu irmão ficaram chocados e me ligaram pois não sabiam o que fazer. Pedi que se acalmassem e que não ficassem tentando fazer o contrário, quer dizer fazê-lo entender porque isso não aconteceria. Logo ele aceitou ir para cama e dormiu.  Isso se repete sempre. Ele acha que a casa não é dele. Sempre pede para ir embora. Conversando com a médica, ela disse para sair com ele, dar uma volta. É isso mesmo que fazemos, ele se despede de quem fica, damos uma volta com ele e quando retornamos ele pensa que está em casa e chega cumprimentando os que lá estão.