quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Natal 2012

Dia 24 de dezembro de 2012. Aguardo todos ou quase todos da minha família em minha casa.É noite quando começam a chegar. Minha ansiosidade era por ele, meu pai que também viria. Será que ele ficaria bem? Ficou. Nem com o barulho dos rojões ele estranhou. Passava da meia noite quando foram, mas retornaram no dia seguinte e ele ficou o dia todo conosco. Andou bastante, dormiu um pouco, comeu bem, conversou e pediu para ir embora. Fiquei imensamente feliz por tê-lo mais uma vez o dia inteiro em casa. Sei que cada dia é um novo dia com suas novidades. Às vezes come e tem que ser alimento batido, pois se recusa a mastigar. Mas nossa fé em Deus e muito amor para com ele são inabaláveis. A Deus seja toda honra e glória para sempre, Amém.

Ele ora

Somos três irmãs. Cada sexta feira uma de nós faz a faxina na casa minha mãe. Nessa última sexta foi  minha vez e passei o dia por lá. Meu pai estava andando muito lentamente e segurando em paredes e móveis. De repente ele chegou para mim e me fez a pergunta: " O que você faz quando as coisas não vão bem?" - Respondi: " A gente ora". "Então vamos orar, agora!" Se dirigiu até o centro da sala de jantar, puxou uma cadeira para ele e outra pra mim, convidou-me a ajoelhar. Nos ajoelhamos e ele começou orando. Agradeceu a Deus pela vida, pela família e pela igreja e disse em sua oração: "Deus cuida da tua igreja, o inimigo está chegando com ataques, cuida dela, ela é Tua." Encerrou dizendo em nome de Jesus e aguardou que eu iniciasse a oração, o que fiz em seguida. Três dias depois, antes de dormir ele disse à minha que estava sentindo um toque especial de Deus e que queria muito orar. Minha mãe e ele se ajoelharam e oraram e ela conta o quanto ele pediu que Deus cuidasse dela e de cada filho, cada membro da família. Sua fé está preservada.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Agressividade - Alzheimer

Agressividade. Meu pai sempre foi um homem muito calmo. Soube educar os filhos sem nunca gritar com eles. Pensava muito antes de falar sobre algo. Homem temente a Deus, homem de oração, estudioso da Bíblia, evangelista. Jamais esperaríamos ver nele algum sinal de agressividade não fosse a doença. Percebemos que a maior dificuldade é quando a noite chega. A hora do banho é de sofrimento. Então, se quando a noite chega, traz com ela a dificuldade, imagine se há outra pessoa na casa, principalmente para dormir, ele não aceita. Se minha mãe pede para ele se vestir, pois se deixar ele anda só de cuecas, ele avança nela com uma força descomunal. É preciso que alguém chegue e fale mais alto com ele, geralmente meu irmão, o Adilson, para que ele pare. Já anda com dificuldade, sua força parecem ser miníma, não dá para se quer pensar que tenha atitudes agressivas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

continua avançando... Alzheimer

Ela avança sem pedir licença. A cada semana temos novidades desses avanços. Já anda muito lentamente, segurando nas paredes e coisas. Come muito pouco. Dorme pouco também. As pessoas querem notícias e às vezes me tiram do sério quando ouço alguém dizer que os remédios pouco ajuda, que está fazendo é piorar a situação e outras coisas mais... Falam para minha mãe, e ela não sei se acredita ou não, mas esforça-se para não desanimar. Sei que para ela é muito difícil e que temos que cuidar dela também. Nem sempre que vai ao banheiro sozinho, acerta onde se encontra o vaso sanitário, está ficando cada vez mais comum, passar pela sala de manhã e encontrar poças de urina. Está cada dia mais difícil a comunicação com ele, pois às vezes responde com muita grosseria. Tento levar as situações da melhor maneira possível, mas só choro muito, pois é impossível reconhecer no mesmo ser, tais atitudes. Não é reclamação, nem desabafo, é apenas o registro da realidade.

domingo, 11 de novembro de 2012

avanços

A cada semana algo novo acontece e tristemente nos certificamos que a doença avança. As ações e atitudes evidenciam cada vez mais numa transformação lenta. Digo transformação, porque ações e atitudes jamais pensadas nessa pessoa, agora acontecem. É muto difícil constatar isso. Minha mãe é a pessoa que mais sofre. Ela é a cuidadora mais próxima. Uma mulher de temperamento forte, que sabe muito sobre a doença, mas não aceita essas novas reações e às vezes que penso que esse comportamento dela é uma fuga, não quer enfrentar a realidade. É consciente dos avanços e fala abertamente sobre isso. Que o Senhor Deus nos ajude nesses tempos!!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Meu pai em minha casa - Alzheimer

Hoje, 02.11.2012, foi um dia muito especial para mim. Trouxe meu pai para minha casa para que minha mãe pudesse visitar minha tia, irmã dela, em São Paulo. Passou o dia aqui comigo e esteve quase todo lúcido. Contou alguns casos, mas o mais interessante é que quando entramos na rodovia Anhanguera, ele se lembrou do dia em que se perdeu às margens dessa rodovia porque queria ir à Campinas. Já em casa ele se lembrou de minha mãe e declarou ser ela a pessoa de que ama e o quanto ela é importante para ele, pois cuida muito bem dele, trabalha muito e o ajuda nas contas da casa. Momentos especiais para nós.

sábado, 13 de outubro de 2012

Alzheimer - A sombra

A doença avança, já não mais tão lentamente, começa a alargar os passos. Meus pais moram numa  casa simples, mas grande e aconchegante. O terreno tem leve inclinação para frente. Nos fundos há mais duas casinhas, hoje alugadas. A garagem fica no fundo, próxima à cozinha. Fim de inverno e início de primavera, o Sol desce e se põe à direita de quem entra, quer dizer mais para o Norte. Depois das três e meia da tarde começa a levantar a sombra das casinhas e da garagem do fundos batendo no muro que é, na verdade, um paredão, e naturalmente ficando mais escura aquela parte da casa que é onde mais ficamos, pois é fresquinho. Mas basta esse paredão sombrear e meu pai começa a querer ficar mais dentro de casa, pede para tomar banho. Para ele é o entardecer, anoitecer e ele tem muito medo do escuro, da noite.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Alzheimer - E a doença avança...

Cada semana acontece um fato novo, uma atitude inesperada, um comportamento inusitado. Todos sabemos que a doença avançará, desconhecemos o tempo, a velocidade, mas é sabido que situações mais difíceis, dolorosas e embaraçosas vivenciaremos. Meu pai, como já disse sempre foi um homem calmo, tranquilo, compreensivo, nunca falou alto nem mesmo com os filhos quando pequenos, e olha que fomos sete! Sempre soube chamar nossa atenção sem fazer barulho e como o atendíamos! Agora vive momentos introspectivos, quieto, mas tem também momentos de quase agressividade física, pois verbalmente já ocorreu várias vezes. estranha-nos ouvir e ver certa situações, novas para nós, mas que sabemos comum numa pessoa com a doença de Alzheimer. Não se envergonha mais de andar semi nu dentro de casa, uma pessoa que nem bermudas gostava de usar! É difícil entender. Todos nós sofremos, mas não perdemos a fé, a esperança, pois sabemos que nada foge do controle Daquele que criou e sabe de todas as coisas.

domingo, 16 de setembro de 2012

Alzheimer - a oração

Meu irmão  Adilson acaba de me enviar esse email: Li o  seu blog agora a pouco, e não sei se comentei com você sobre os momentos de orações nas quartas feiras, pois gosto muito de orar com ele. Algumas frases eu tenho guardado, são elas: "Deus, não me deixe esquecer a minha família", "Deus, nas minhas orações eu quero encontrar palavras que agradam ao Senhor e não tenho encontrado". Após o susto que tivemos, orei novamente com ele e suas palavras foram as seguintes: "Deus, agradeço pela viagem que fiz, pois o Senhor me levou e trouxe em paz, agradeço pelo pão cotidiano que eles me deram, mas uma coisa eu quero te pedir Senhor: eles não tem os costumes que nós temos que é o de te servir, envie mensageiros para pregar a tua Palavra a eles, em nome do Senhor, amém. As lagrimas às vezes vem aos olhos, mas quero aproveitar estes momentos com ele, pois é muito bom. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Alzheimer - o cadeado

Depois do ocorrido Desaparecimento dele por mais de vinte e quatro horas), tomamos uma decisão: deixar os portões fechados e uma cópia de chave para cada filho. Decisão tomada, assim se fez. Quando ele está bem quer sempre saber o portão está fechado. Então lhe explicamos que é mais seguro, pois com os problemas de violência... No momento ele aceita, mas logo pede para sair. É preciso ter sempre alguém por perto com disponibilidade de dar umas voltinhas com ele, sair dos limites da casa o deixa muito feliz. É possível, nessas horas, ouvir belas histórias de sua memória antiga. Mas não podemos descuidar em nenhum momento. Quando ele está lúcido, anda devagar, bem devagar, quando não está lúcido, é tudo diferente, anda mais rápido, não olha para os lado e sim de cabeça baixa. Não gosta de ser vigiado.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Alzheimer - Depois do susto

Depois do desaparecimento por mais de 24 horas , pareceu mais calmo. Depois de um bom banho, comeu e dormiu muito. Por duas noites o sono foi muito bom. Mas na terceira noite, já não foi bom. Ao amanhecer tinha enrola do nos cobertores o tapete do banheiro, a toalhas de banho e outros peças que foi achando pela frente. à vezes conta algumas coisa relacionadas à noite que passou no abrigo. Disse que estava numa festa onde se comia demais e que parecia muito com as festas em nossa casa. Disse que dormiam todos juntos num quarto,m que era muita gente, que eram brigões, violentos e que ele também precisou brigar. Seus lábios estavam rachados, creio que pelo sol e porque ficou sem água.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Alzheimer - desaparecimento

Recebi a notícia do desaparecimento da notícia dele às doze horas. Meu irmão ligou contando que ele havia saído de casa por volta das nove horas da manhã e que ainda não havia retornado e que nem eles o haviam encontrado. Aproveitou a oportunidade do portão aberto, que minha mãe abrira para receber o gás. Ela não notou de imediatos e quando percebeu saiu à procura pela vizinhança. enquanto isso uma tia de meu cunhado ligou para minha irmão dizendo que havia visto ele, sozinho, andando em direção à rodovia Anhanguera. Meu irmão saiu imediatamente e não o encontrou. Me dirigi para lá às treze horas e já fui fazendo investigação e numa das ruas encontrei-me com minhas duas irmãs, a pé, com fotos del nas mãos. Angustiei-me, mas orei e pedi ajuda dos céus. Fui para uma Delegacia de Polícia e com muito custo consegui fazer um Boletim de Ocorrência. Fui para casa da minha mãe ficar com ela. Chorava muito. Um batalhão de pessoas procuravam.Por volta das dezoito horas saí com minha irmã caçula e formo em todos os Pronto socorros da região, fomo até em uma Unidade da AutoBan, concessionária responsável pela rodovia e tivemos a notícia de que nenhum acidente ou atropelamento havia sido registrado naquela região. Pessoas de um posto de gasolina, reforçavam a ideia de que ele estava por ali, na rodovia pois até deram café para ele. "Meu Deus! Onde ele está, se as pessoas viram ele e nós que estamos a maior parte do dia concentrando buscas por aqui não o vimos?" Fiquei na rua até tarde da noite, por fim voltei. A noite chegou e com a tristeza maio, a preocupação. A família, parentes, amigos, irmão em Cristo, e até políticos na busca e assim passou a noite. Não dormi, mas fui lembrada por uma senhora muito amiga, sobre um versículo bíblico que diz no livro dos Salmos: A tristeza pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer. E na força dessa palavras o dia amanheceu. Saí às 6:15 da manhã com um irmão meu. Andamos novamente às margens da rodovia, bairros vizinhos, estabelecimentos,não tinha mais onde procurar. Por duas vezes avistamos alguém ao longe com características dele e saímos correndo, e aí era engano. Meus pés doíam muito, pois pisei num prego há uma semana e de tanto andar, a dor aumentou, mas estava disposta. Nos juntamos a mais dois irmãos e continuamos as buscas. Às dez horas de hoje, meu celular tocou e era minha irmã dando a notícia de que haviam localizado. Ele estava num abrigo em Campinas, meus pais moram em Sumaré, cidade vizinha. Encontrara-no perambulando, no dia anterior, às quatro e meia da tarde, às margens da rodovia, num local de grande fluxo de veículos, pois é onde os veículos da rodovia Dom  Pedro
entram na Anhanguera. Meu filho mais novo trabalha próximo a esse abrigo. Quando lá cheguei, já estava com o avô que lúcido o apresentou como neto para a assistente social da instituição. Chamou-nos pelo nome, mas disse que estava de viagem e que participara de uma festa, como as que acontecem lá em casa, com todo mundo ao redor da mesa e com muita comida, mas não gostou da religião deles, pois não oram antes das refeições. Chegamos em casa às onze da manhã, uma verdadeira multidão nos aguardava. Foi lindo o recontro de minha mãe e ele. Fizemos um círculo e agradecemos a Deus pelo livramento, pela proteção e por providenciar pessoas (anjos) para cuidar dele. Passei o restante do dia cuidando dos dois, pois minha mãe estava muito cansada.

sábado, 25 de agosto de 2012

Faz parte do Alzheimer

Preciso dizer que sei muito pouco sobre o Alzheimer. O que sei são resultado de pesquisas na Net, filmes, leituras que faço, orientações médicas e vivências na prática. Primeiro vem os momentos embaraçadores, que são quando a memória falha em momentos de conversa, exposição de um fato ou de esquecimento de onde deixou determinado objeto. Com o passar do tempo isso vai se repetindo com maior frequencia principalmente nos fatos recentes. Troca de nomes passam a ser constantes. Sei que dias mais difíceis virão, dias em que como filhos não seremos lembrados como tal e sim como estranhos. Dias em que a dependência total vai chegar. Sei que as mínimas e necessárias ações como comer, mastigar, engolir, serão também esquecidas. Preparados sei que nunca estaremos para enfrentar tais situações, mas há um Deus que tudo vê, um Deus que cuida e sabemos que Ele é por nós e que nos dará a força, a sabedoria, a compreensão e a serenidade que necessitamos. Eu creio nisso.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Alzheimer - atitudes inesperadas

O sono está cada vez mais distante. Dorme pouco mesmo tomando remédio para dormir. Levanta várias vezes durante a noite. Já não usa mais normalmente o banheiro, pois o mesmo pode ser atrás da porta do quarto, da sala ou qualquer canto. Acaba de almoçar e se chega alguém diz que minha mãe não lhe dá comida e que está "morrendo" de fome. A hora do banho é um momento quase dramático, entra debaixo  do chuveiro, se molha e já vai se enxugar e veste a roupa suja e por muitas vezes deixa de usar a peça necessária por baixo das calças. São momentos que passamos e mais propriamente minha mãe, embaraçadores, tristes e que precisam ser encarados com sabedoria.

Alzheimer - As dificuldades

Elas vão chegando, embora esperadas, chegam sem avisar. A cada mês, cada consulta os avanços são confirmados. Vêm as tristezas, vêm as dores, os medos, os questionamentos. Como lidar com tudo isso? Mesmo buscando informações, há a individualidade e as reações, sei que a doença se apresenta igual para todos. Hoje as dificuldades se multiplicam a cada dia. Como lidar com uma pessoa que se alimenta bem, ouve bem, mas tem atitudes jamais esperada para uma pessoa de comportamento tão certinho? Se tornou uma pessoa que a boa educação está cada dia mais escassa no seu cotidiano. Responde a tudo com certa grosseria, a teimosia, nunca conhecida em sua vida, agora faz parte do seu jeito de ser. Com o compreender tudo isso?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Alzheimer - O pudor

Meu pai nunca ficar sem camisas ou usar camisas cavadas nem bermudas. Mas é comum à noite vê-lo de cuecas e camiseta andando pela casa. Não faz questão de fechar a porta do banheiro...

Alzheimer - O avanço

No início do mês de julho, meu pai foi a mais uma consulta de rotina com a Dra Mônica, neurologista que cuida dele. E não foi nada animador, pois ouvimos dela que a doença vem avançando significativamente. Na verdade já sabíamos, pois as coisas têm se tornado cada dia mais difíceis. É incrível a instabilidade no comportamento. Quase não dorme! Come bem e não se lembra de ter se alimentado fazendo com que coma mais vezes e até ganhe peso!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Alzheimer - Reunindo filhos

Ontem nos reunimos, aproveitando que meu irmão que mora no Mato Grosso veio visitar-nos. Foi muito bom esses dias com ele aqui. Meu pai alterava momentos bons, lúcidos e momento em que se perdia nas conversas, trocava tudo... Mas o motivo da reunião foi para ver as possibilidades de cada um em ajudar e a forma que podemos ajudar não só meu pai mas principalmente minha mãe que está visivelmente cansada, pois meu irmão que estava cuidando não está mais pois conseguiu emprego. Decidimos a ajuda financeira com depósitos mensais e eu e minhas duas irmãs alternaremos em passar roupas, uma semana para cada uma e será pago uma faxineira periodicamente. Um de meus irmãos e que almoça diariamente cuidará do meu pai após o almoço para qure minha mãe descanse um pouco. Todos sabemos que essas medidas srão alteradas conforme o andamento das coisas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Alzheimer - arteirices, mais arteirices...

Bem sabemos que não será fácil, que cada dia, novas situações surgem já é fato. A nossa oração é que Deus nos dê sabedoria e, principalmente para minha mãe. Às vezes são ações repetidas, às vezes, inusitadas e interessante que ele apronta todas durante a noite, pois dorme muito pouco. Cesto de roupas não pode mais ficar no banheiro, pois ele tira todas as peças e ainda joga na lixeirinha do banheiro. Outro dia, num desses períodos sem dormir, pegou os porta retratos (minha mãe tem muitos sobre um balcão na copa) e espalhou pela casa, e os que não pegou, virou todos para baixo! Outro dia fugiu por umas três horas. Deixou todo mundo desesperado e foi encontrado voltando para casa com vários produtos de horta e pomar. Disse que havia ido na casa de "Seu Zezinho" para pedir trabalho e que ganhara tudo aquilo. Fica bravo com minha mãe dizendo que ela gasta todo o dinheiro dele, então, ela sempre dá uns trocadinhos par que ele guarde no bolso e por aí vai, são tantas...

Alzheimer - Remédios - A resposta

Não foi fácil, esse processo de conseguir os remédios para o tratamento de  meu pai. Já contei nesse marcador (remédios) a orientação que recebi de uma advogada e professora que trabalhava comigo. Seguimos à risca. Minha mãe foi à Defensoria Pública onde foi orientada a procurar um advogado junto a OAB e ela foi. Depois de algum vai e vem, foi expedida a ordem para que a Prefeitura comprasse. A Prefeitura já comprou os remédios e depois de um longo período (desde março, estamos em final de maio), conseguimos os remédios, graças a Deus. E será assim, todas as receitas deverão ser levadas à Prefeitura para que ela compre.  Para nós, uma grande vitória, na certeza de que Deus ouve orações e abençoa os seus filhos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Alzheimer - arteirices

De vez em quando e agora com mais frequencia meu pai tem aprontado algumas. E aí, chorar ou rir? Temos tentado levar pelo lado do humor. Essa semana liguei para minha mãe e quis saber como ele estava, ela veio logo contando que ele havia despejado um vidro inteiro de desinfetante dentro do vaso. Então, quando essas coisas acontecem são necessárias algumas precauções. Aí, "Pinho Sol"no banheiro nem pensar.

domingo, 22 de abril de 2012

Alzheimer - Passeio

Cheguei em casa hoje para almoçar e encontrei meu pai querendo voltar para casa. Disse que minha não queria levá-lo para casa e ele não sabia o caminho de volta. Almoçamos e ele não parava de pedir para voltar para casa dele. Então meu esposo, Ozias, disse a ele que o levaria. Ficou feliz, seu rosto transformou. Queria ir a pé, mas começava a chover e então aceitou ir de carro. Já no carro, estava bem e reconhecendo as coisas. O passeio foi longo. Ozias o levou à uma plantação de cana e ele reconheceu a terra escura como terra boa e a necessidade do uso de botas para trabalhar. Ozias também o levou a lugares por onde ele trabalhou: um sítio onde se cultiva mudas de plantas ornamentais e frutíferas; frente a empresa onde ele tinha um carrinho em que se vendia doces, bolos, pastéis eitos por minha mãe na madrugada e mostrou-lhe a empresa onde ele teve a seu primeiro registro em carteira. Passeou pela rodovia Anhanguera, mostrou-lhe a primeira casa que alugaram assim que aqui chegaram. Enfim, quando eles retornaram, tinha em seu rosto um lindo sorriso. Passou uma tarde feliz e quando os outros filhos iam chegando para o café das quatro, ele relatava direitinho. E o mais emocionante foi na hora de despedirmos, ele agradeceu ao Ozias pelo passeio. Ozias prometeu levá-lo novamente e disse que quer novamente passear.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Alzheimer - Quando o sol se põe

Algo diferente e estranho acontece quando o sol se põe. Chega a noite e tudo fica diferente para ele. MEDO.
Meu pai tem muito medo da noite, do escuro. Não fica sozinho. Torna-se como uma sombra para minha mãe. Onde quer que ela esteja dentro de casa ele está com ela! Não fica num quarto com luz apagada. É preciso deixar a luz do banheiro acesa a noite toda, pois vai ao banheiro várias vezes por noite. Talvez seja esse medo que ele sente que dificulta ver televisão à noite. É como se as pessoas da televisão invadissem a sala. Para ele é como se a casa estivesse cheia de gente estranha, e qualquer pessoa que os visitem à noite, ele fica estranho. às vezes é tomado de insônia, fica perambulando pela casa.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Alzheimer - mudanças

Com a doença muita coisa precisou ser mudada no cotidiano da família, mais precisamente na casa dos meus pais. Além de pensar em mais cuidador para ajudar minha mãe os cômodos da casa também foram alvos de observações. Começamos com o banheiro. O piso foi trocado por um antideslizante, barras de segurança para o chuveiro e vaso sanitário, torneira temporizada, pois ele esquecia a torneira aberta, sempre. Outros cuidados como as roupas (sujas) merecem atenções, pois não pode deixá-las dentro do banheiro e até mesmo no cesto que ele as veste.

Alzheimer - Acompanhamento médico

Há quase um ano que levamos meu pai pela primeira vez para se consultar com a Dra. Mõnica. Foi ela quem pediu os exames de angioressonância magnética e angioessonância cerebral. Foi ela quem diagnosticou a Doença de Alzheimer do meu pai. De lá para cá, as consultas tem sido mensais. Ele não reclama de ir às consultas. Hoje fomos a uma consulta. O consultório fica no edifício Comercial América do Sul, bem no centro de Campinas. Quando saímos do estacionamento, dirigi até à Rua Benjamim Constant e ele quis saber que era aquela. Eu respondi e ele disse: Então o Mercadão está perto. Afirmamos que sim e orientamos a olhar sempre para o lado direito que logo ele veria o Mercadão. Logo ele gritou: É aqui! E reconheceu o pontilhão, a igrejinha do Bairro Aparecidinha, a entrada para o Matão, bairro em que mora há mais de trinta anos. Estava feliz pois ouvira a médica dizer-lhe que estava bem. Ficou feliz por ela ter gostado do presente que levou para ela ( um pano de prato bordado com o desenho de um elefante, objeto da coleção dela no consultório). Estava simplesmente feliz!


quarta-feira, 21 de março de 2012

Alzheimer - A Fé

Meu pai ainda lê. Raramente pega a Bíblia que sempre foi sua fonte de inspiração e leitura prazerosa. Passou um período que não desgrudava do hinário. Lia, tentava até cantar. Vai à igreja normalmente. Ainda discute sobre assuntos bíblicos om o mesmo ardor. Neste domingo me emocionei na hora do almoço. Minha mãe pediu que agradecesse o alimento. Ele orou, um oração curta, objetiva, fervorosa e linda.

Alzheimer - Humor

Do portão ouvi o tom grave de voz do meu pai. Discutiu com minha mãe e agora contava para meu primo Adriano que mora nos fundos da casa a quem ele permite ainda que faça-lhe a barba. O motivo da conversa era sobre roupa. Chegaram da igreja e com o calor que anda fazendo por aqui, minha mãe deu-lhe uma camisa de manga curta. Ele não gostou e brigou: onde já se viu, um homem como eu ficar com os braços de fora, não respeitam mais como antigamente. Minha mãe então, propôs que vestisse a camisa de manga comprida, mas aí ele não quis mais, mas não encerrou o assunto e foi comentar com o Adriano e foi aí que chegamos. Entrei em casa assustada, pois do portão era possível ouvir-lhe a voz. Voz que eu em meus cinquenta e um anos de idade nunca ouvira mais alta. Interessante que o assunto sobre vestimentas continuou. Conversando com o Ozias, meu marido, ele relembrou de como eram as roupas de antigamente. Lembrou de como eram mais duráveis. Recordou também da moda, principalmente das calças masculinas e suas "bocas de sino" dos anos 70. Chegou até imitar meu irmão, o Adilson que usou muito dessas calças e como era o modo de andar de quem as usava. Riu muito com isso.

terça-feira, 6 de março de 2012

Alzheimer -Os bons momentos

Tem dia que passa bem quase o dia todo. Depende do dia. Tem dia que apronta todas.   Mas ainda é possível conversar, gosta muito de contar coisas do passado, conta certinho! Fala muito da Bahi, sua terra natal. Gosta muito de conversar sobre plantações. Fala das estações do ano. Ainda lê, mas não escreve mais.  Fica atento ao que falamos e participa das conversas. Ainda lembra os nossos nomes. Questiona o que não sabe. E ainda é possível vê-lo tocando violão!!




terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Alzheimer - cuidadores

Cuidador. Essa é a palavra usada para a pessoa mais próxima do paciente com Alzheimer, aquela que cuida. Ao meu ver dever ser sempre mais que um indivíduo. Como já disse no marcador: reação dos filhos, decidimos que meu irmão Ivan que tem maior disponibilidade é quem auxiliaria minha mãe nos cuidados com meu pai. E tem sido assim desde o início de fevereiro. Isso tem ajudado muito a minha mãe, que pode ficar tranquila para cuidar de seus afazeres sabendo que alguém está cuidando dele.
Ivan é muito cuidadoso. Presta atenção na fala, nos gesto, movimentos. Está atento às pequenas mudanças que ocorrem. Senta com ele para ver televisão, proporciona momentos especiais e necessários para ele, como sentar para ver fotos, questiona lugares, nomes, parentesco e por aí vai. Leva-o para caminhar, faz com que tome mais água (que ele não lembra de tomar), Vai à "rocinha" com ele. Rocinha é um terreno baldio que ele plantava quando ainda estava melhor. Ele continua indo, mas quando chega lá, não sabe poque está lá. Perde as ferramentas. Então, Ivan o acompanha, planta, limpa, ajeita as ferramentas para ele. Leva para cortar cabelo, tudo isso para minha mãe tem sido muito bom, só que ela não abre mão de servir o alimento na hora, medir a pressão arterial diariamente (ela tem o aparelho), dar o remédio e acompanhar na hora do banho, nas consultas e exames.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sinais que antecederam o Alzheimer

Dois anos antes do diagnóstico, algumas situações incomuns aconteceram. Primeiro ele quase não falava. Mais ouvia, raramente emitia sua opinião. Vez ou outra queixava-se de "esquecimento", mas achava que era a idade que avançava. Estava co m setenta e cinco anos. Realmente essas falhas acontecia com mais frequencia. Um dia ele amanheceu com dores abdominais, depois diarreia ao que o médico diagnosticou como uma virose. Tomava os medicamento, mas nada adiantava, ao contrário, só piorava, não tomava os remédios nem a água tão necessária naquele momento. Emagreceu muito e enfraqueceu também. Foram incontáveis idas e vindas a Pronto Socorro e hospitais.  Numa das vezes em que ele passou muito mal com essas dores e  diarreia forte, minha mãe me ligou e pediu que fosse até lá. Fui e o encontrei sentado na beirada da cama, triste. Pedi a benção, como faço desde criança e perguntei o que realmente estava acontecendo, o que o deixara assim tão triste. Entre algumas reclamações que fez, ele me disse sobre a dificuldade de estar juntos às pessoas, pois quase sempre ele não compreendia a conversa e isso o deixava muito mal. Voltamos com ele ao médico e apesar da internação, voltou par acasa e piorou. Era domingo bem pela manhã e recebemos o telefonema de meu irmão caçula, chorando e dizendo que o pai dissera que chegara ao fim, não queria ir ao médico, pois sabia que a morte aproximava. Pedi que trouxesse ao Hospital das Clínicas e que encontraria com eles lá. Enquanto ele passava pelo tendimento, acompanhado de minha mãe, eu e meu irmão caçula (pastor) fomos para um canteiro e conversamos sobre nosso pai. Oramos e pedimos a direção de Deus. Choramos. Ao meio dia, teve alta. Providenciamos os remédios e fui com ele para casa. Com muito carinho, nós os filhos conversamos com e pedimos que tomasse a medicação prescrita. Dessa vez ele atendeu e sarou.

Era uma tarde quente de domingo. Como de costume, estávamos todos reunidos na cozinha da casa de meu pai. Uma mesa farta. É assim todo domingo. Depois das três da tarde começam a chegar os filhos, noras , netos e bisnetos para o café da tarde. Nunca faltam aquele bolo, de massa branca como diz minha mãe, e o pão que ela ama fazer e o cafezinho fresquinho, delicioso ao som de conversar e boas risadas. oi aí que de repente vi meu pai levar a mão à boca toda torta, em seguida tentar levantar-se, mas sua mão esquerda não atendia aos movimentos solicitados. Foi aí que pedi até que com calma para minha irmã ao lado ajudá-lo e em seguida pedi ao meu marido que corresse para um hospital. Na minha ignorância, meu pai estava tendo um AVC.

Alzheimer - Os remédios

Quando a médica que acompanha meu pai (não é geriatra, mas clínica) no grupo de pessoas hipertensas, percebeu seu "esquecimento" pediu que fizéssemos consulta com um neuro e que  certamente pediria exames neurológicos para ver o que estava acontecendo. Meu pai e minha mãe são dependentes meus como servidora pública, no IAMSP, é um sistema que não atende em nossa região a todas as especialidades e muitos exames  são feitos em São Paulo no Hospital do Servidor. Como estava difícil alguém de nós irmos a São Paulo, um irmão pagou a consulta, os exames e remédios foram rateados entre os demais irmãos e o diagnóstico do neuro é que  meu pai estava com a memória fraca, que a tendência era continuar e que poderia ser um problema hereditário. Receitou o qual compramos, mas que não ajudou em nada. O tempo passou e com o diagnóstico da Doença de Alzheirmer a neuro receitou outros remédios. Remédios que ajudam, retardam os sinais, faz com que ele tenha mais qualidade de vida. Custam caro. Na primeira vez, minha mãe recorreu à Poupança, mas era pouco, não daria para muitos meses. Na segunda vez os filhos ajudaram. Os remédios dão para um mês. Fomos na farmácia de alto custo, e eles disseram que o remédio que o Estado fornece é em comprimido.A neuro já havia nos alertado sobre isso. O comprimido provoca efeitos colaterais que aumentaria o sofrimento dele. Um dos remédios receitados pela neuro é em adesivo, justamente para evitar essas reações e esse é mais necessário. Diante do não da farmácia (que  nos doou uma caixa de adesivo, pois alguém  fizera a doação depois da morte do paciente), ficamos desorientados e preocupados. Mas como sempre a dificuldade foi apresentada a Deus que prontamente nos ajudou. No meu último dia de trabalho (me aposentei), uma professora da escola, também advogada me perguntou como estava a minha família, mais precisamente o meu pai, pois ela tem vários clientes que tem familiares com a doença e sabe da dificuldade com remédios, alimentação específica e fraldas (estágio final) e prontamente me orientou como agir no município onde ele mora. Agradeci muito a essa moça que creio ser enviada por Deus para nos ajudar. Fui atrás da neuro peguei o laudo, receitas, e as cópias dos documentos pessoais de meu pai e da minha mãe, pois é ela que tem que fazer o pedido. Meu irmão a levou à Defensoria Pública de Sumaré, município em que residem e já foi tudo encaminhado e aguardamos a resposta em um prazo de trinta dias.

Alzheimer - A reação dos filhos

Convivendo com meu e vivenciando todas as falhas, esquecimentos e conhecendo algumas pessoas portadoras desse mal, suspeitava que meu querido também era portador da Doença de Alzheimer. Às vezes eu meus conversávamos e falávamos das nossas suspeitas. Quando foi diagnosticado a doença, não foi propriamente uma surpresa, mas não posso dizer que foi menos dolorosa a confirmação dela. Como irmã mais velha, recomendei a cada um que fizesse pesquisa, que procurasse saber mais sobre a doença. E foi isso que aconteceu, todos procuraram sabeu um pouco mais. Marquei um dia em que todos pudessem estar juntos (menos o Ronaldo que mora em Mato Grosso, mas que mesmo assim acompanha tudo), inclusive um primo que mora na casa dos fundos e que ajuda a cuidar do meu pai fazendo-lhe a barba periódicamente, para conversarmos sobre o assunto. Fomos então para a casa da Rose e com o computador, lemos algumas matérias e discutimos sobre o Alzheimer. Ficamos chocados com cada fase da doença. Mas terminamos a reunião com algumas decisões importantes tomadas. A primeira delas, unânimes para todos nós, é que estávamos dispostos a passar por tudo isso com muita serenidade e confiança no Deus ao qual servimos, amamos e confiamos. A segunda delas é cuidar da nossa querida mãe que vimos o quanto a doença refletiu nela trazendo envelhecimento e perda de peso, procurando facilitar o trabalho e zelar pela sua saúde, mostrando a ela que estaremos sempre ao seu lado, dando carinho e presença sempre. A terceira decisão é que custe o que custar, não deixaremos de adquirir os remédios receitados pela neurologista, Dra. Mônica que cuida dele com muito respeito. A quarta decisão foi que meu irmão Ivan, que tem maior disponibilidade de tempo, passaria algumas horas com meu pai cuidando dele, fazendo caminhadas, levando-o para cuidar de uma horta que ele cuidava antes do diagnóstico. Daríamos mensalmente uma quantia a ele. A quinta e última decisão é que nos reuniríamos de tempos em tempos para avaliarmos nossas ações e as necessidades surgidas.

Alzheimer - A reação de minha mãe

Minha Mãe. Uma pessoa generosa. Generosidade, hospitaleira, organizada, cozinheira, zelosa, brava. Cresci vendo minha mãe ajudar as pessoas. Cresci dividindo tudo com meus seis irmãos e mais tarde dividindo a atenção dela com os primos que vieram tentar a vida na cidade grande (Campinas) e ela os aceitava oferecendo espaços nas beliches do quarto (um só para quatro rapazes) dos meninos. Também veio a Zânia que consideramos irmã, além da fé, e os filhos dela têm minha mãe como avó. Fim de semana sempre foi de festa. Quando os meninos eram solteiros, os jovens da igreja baixavam acampamento em casa. E ela sempre preparando a melhor comida, o melhor lanche. Mesa farta. Sua  casa sempre foi de uma limpeza de brilhar. Todos os espaços cheiram limpeza, até a roupa no varal tem perfume de roupa bem lavada. Seus panos de prato são alvos como a neve!  Sempre zelou pela nossa educação secular e cristã. Mulher crente, fiel ao serviço do Senhor. Como hospitaleira, em casa ela e meu pai sempre fizeram questão de receber os pastores, suas famílias com muito carinho. Mas pensa numa mulher brava! Não pise na bola com ela. Sua palavra é garantia. Então o que disser a ela deverá ser verdadeiro. Gosta de conversar, fala alto e chama atenção na hora em que achar que deve, e doa a quem doer. Cozinheira de mão cheia tornou-se boleira e salgadeira. Fez disso um complemento de renda familiar. Tudo que deseja possuir, seja um móvel novo, uma reforma na casa, uma roupa nova, um presente, tudo sai de seu trabalho com bolos e salgados. Levanta cedo e vai dormir tarde. Se vai para a frente da televisão, leva seu crochê onde tece lindos tapetes. Meu pai sempre apresentou um saúde mais frágil e ela sempre cuidou muito bem dele. Parecia lidar muito bem com as falhas de memória dele. Preocupada fez tudo para que os exames neurológicos (pagos) fossem realizados, comprou medidor de pressão e passou a medir a pressão dele diariamente. Todos os remédios receitados, foram comprados e dados a ele. Quando o terreno vizinho onde meu pai plantava foi vendido, ela saiu a procura de um novo espaço para ele mexer com a terra. Nas internações (foram duas), acompanhou tudo, chorou, sofreu. Pouco falávamos na possibilidade do Alzheimer, mas quando acontecia ela não acreditava. Essa mulher trabalhadora, forte, recusou a aceitar o diagnóstico. Primeiro veio o choro, depois a incredulidade: - " Eu não aceito! E acabou". Foram dias difíceis. Como filha mais velha, coube a mim dizer "algumas verdades" (com muito amor) de como seria a vida dali em diante e de quanto ela poderia contar com a ajuda dos filhos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aposentadoria

Vir para São Paulo era a possibilidade da realização de um sonho, não propriamente o de morar nesse estado, mas ter um trabalho com registro em carteira. Sabia que se ficasse a vida toda trabalhado como lavrador sua aposentadoria seria conferida como um trabalhador rural e o valor seria baixo. Enfrentou a  vida de um faxineiro em uma empresa, se submeteu às implicâncias de uma chefia mal-humorada, mas não desistiu e seguiu em frente em busca de seu objetivo: aposentar-se. Por isso se propôs a superar suas deficiências no conhecimento de "lidar com pessoas" e foi ser zelador de um prédio. Trabalhou à noite, foi assaltado, enfrentou perigos, mas tinha em visto um objetivo, um sonho: ser aposentado. Esforço recompensado.

Lidar com a terra

Lidar com a terra sempre foi a grande paixão de meu pai. Parece até contraditório dizer que ele não teve sucesso como agricultor. Nunca conseguiu comprar suas terras, seu grande sonho.
Quando se mudou do Paraná para o estado de São Paulo, veio morar em Sumaré. Veio doente, trouxe a família, fez tratamento, foi operado da úlcera. Quando se recuperou foi vender doce, bolo, pudim, pastéis e café que minha preparava de madrugada na porta de uma empresa chamada Minasa, bem na entrada no bairro. Tinha um objetivo e por isso precisava trabalhar com carteira assinada. Foi ser faxineiro, zelador. Mas nunca esqueceu sua paixão com a terra.

Alzheimer - Atos falhos

Sempre que nos reunimos (sempre foi assim), lembramos de fatos e acontecimentos que marcaram nossa história familiar. São recordações que nos levam a rir muito. Mas ultimamente, temos nos reunido mais para analisar essas lembranças e então surge uma pegunta: Será que tudo isso já era sinal da doença? Sinceramente? Não sei. Espero um dia ter essas explicações.
Bem, vamos às recordações. Me lembro e, isso desde menina as trapalhadas que meu pai fazia e que eram motivo de riso para nós (éramos crianças!) e constrangimento para ele. Certa vez, na hora do jantar colocou a comida numa bacia que usávamos para lavar o rosto, é isso mesmo, morando na roça, sem água encanada, usávamos uma bacia para a higiene matinal. Outra vez, ele pegou a concha como talher! Ao entrar num veículo, nunca achava a maçaneta para abrir a porta. No carro de duas portas é preciso levantar o banco para entrar, pois ele já tentou sentar no banco levantado, de costas para a frente do carro! E quando tenta entrar com a perna contrário ao lado em que vai sentar?! Coisas aconteciam e a gente achava que ele era um pouquinho atrapalhado, e talvez por conta de sua timidez.
Minha mãe conta que esse fato da comida na bacia já havia acontecido. Foi logo depois do casamento.
Esquecido. Sempre esquecia das coisas. Numa lista de dez, ele esquecia a metade. Essas coisas e outras que ainda contarei conforme as lembranças surgirem, são fatos acontecidos até os 60 anos. Depois vieram os esquecimentos mais constantes, começar uma história e não lembrar de lugares, pessoas; esquecer a própria história na metade e ficar triste e muito chateado por perceber que sua memória estava ficando cada vez, mais "fraca".
Nessa época, minha mãe o levou ao médico e ele deu um remédio para ajudar, além de recomendar exercícios físicos.

Alzheimer

Não sei se tem a ver com a doença, se ela se manifesta cedo, mas meu pai sempre apresentou esquecimento, a que ele mesmo chamava de memória fraca.
Vou relatar aqui o que está acontecendo a partir do momento foi diagnosticado Alzheimer.

Uma noite de outubro meu irmão Adilson, o segundo depois de mim, me ligou e muito assustado relatou o que acabara de acontecer na cada de meus pais. Ele simplesmente dizia que minha mãe era sua prima, que aquela casa não era dele. Queria ir embora para sua casinha que ficava lá para cima. Se recusava a ir para cama. Minha mãe e meu irmão ficaram chocados e me ligaram pois não sabiam o que fazer. Pedi que se acalmassem e que não ficassem tentando fazer o contrário, quer dizer fazê-lo entender porque isso não aconteceria. Logo ele aceitou ir para cama e dormiu.  Isso se repete sempre. Ele acha que a casa não é dele. Sempre pede para ir embora. Conversando com a médica, ela disse para sair com ele, dar uma volta. É isso mesmo que fazemos, ele se despede de quem fica, damos uma volta com ele e quando retornamos ele pensa que está em casa e chega cumprimentando os que lá estão.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Meu pai


Tocar violão. Descobri bem tarde que meu pai sabia tocar violão. Já o tinha visto dedilhando um acordeom, mas não sabia que ele manejava um violão.
            Aos poucos fui descobrindo suas qualidades e habilidades. As habilidades que eu conhecia nele eram dirigir um trator, arar a terra, cultivá-la, cuidar dos “peões”, homens contratados por meu avô para cuidar da lavoura e do gado. Sempre foi cuidadoso no que fazia. Tinha suas mãos calejadas pelas ferramentas que um homem do campo, como ele, sabia manejar muito bem.
            Mas, ele ia além do que se via. Atrás daquele porte alto, pelo menos p/ mim, magro e embora não falasse muito, mantinha sempre um sorriso. Seu rosto nunca deixou transparecer as preocupações de um homem sonhador, fiel aos seus princípios e compromissado com sua família.
Meu pai sempre foi um homem exemplar. Ensinou a ler e escrever entre meus quatro e cinco anos de idade. Já alfabetizada (por ele) lia todas as palavras que via. Com ele conheci os números, as operações matemáticas. Foi com ele que aprendi o que sei sobre Deus, Jesus Cristo, Vida Eterna.
            Um homem de vida simples, mas de muita sabedoria. Não precisou surrar os filhos para educá-los. Era exemplo, era ético. Conduziu-nos com muito amor no caminho do bem. Fez questão que frequentássemos a escola e mostrou-nos a importância dela. Um leitor assíduo da Bíblia, amante dos Salmos. Ensinou-nos desde cedo o caminho da igreja. Caminhava conosco e isso foi fundamental na nossa formação.
            Sou a mais velha dos sete filhos. Conheci dias bons, de fartura e conforto. Mas também vivi anos de dias difíceis. Os vestidos de “lese” acabaram dando vez aos de chita, os sapatos de verniz envelheceram dando lugar a chinelos e alpargatas que eu simplesmente detestava. Os picolés e guaranás dos fins de semana desapareceram. O conforto de uma casa com ladrilho vermelho e encerado, telhas de barro e paredes de tábuas ficaram somente na lembrança, pois agora o lar doce lar era coberto de “tabuinhas”, as paredes de troncos irregulares de madeira e chão batido.
            À noite, era possível ver o céu salpicado de estrelas pelas frestas da parede. Mas a noite de lua cheia me assustava. Tinha medo de que com a claridade dela eu visse algo estranho, como os de muitos “causos” contados pela “peãozada” do sítio do meu avô, que aproveitava para contar histórias quase numa disputa para ver quem contava melhor.
Acho que preciso contar que morei no interior de São Paulo até os seis anos. Com a morte da minha avó e a partilha dos poucos bens de meu avô meu pai quis aventurar-se no Paraná. Foi aí que morei na casinha  já descrita.
Domingo era dia de ir à igreja. Tinha a distância de sete quilômetros de casa. Estrada de terra com muita areia. A Escola Bíblica Dominical começava ao meio dia, por isso, almoçávamos às dez horas para sairmos às onze. Minha mãe levantava cedo, matava o frango e o preparava num molho delicioso. Mas, antes de servir meu pai orava. Quase sempre uma longa oração o que favorecia a prática de algumas traquinagens como pegar a mistura (sempre o melhor pedaço do frango) um dos outros. Então, já começávamos a oração com as mãos sobre o prato para cobrir a carne.
            Toda essa adversidade não foi capaz de fazer meu pai deixar de sonhar. Talvez essa pessoa sonhadora que sou seja herança paterna. Morando no sítio de um tio de meu pai, foi preciso desmatar e iniciar o cultivo da terra arrendada. Era lavoura de feijão, algodão, amendoim, milho e café sem contar as hortaliças e a criação de porcos e galinhas vindos daí a gordura e a carne para nossa alimentação.
Quando falo de adversidade, na verdade, refiro-me ao fenômeno natural chamada geada. Era sempre assim, solo preparado, semente plantada e aí vinha ela branquinha, branquinha e acabava com toda a plantação. Sonhos desmoronados. Recomeço. Assim foi por vários e vários anos.
Mas tinha uma coisa boa quando geava. Meu pai dizia: esta noite vai gear. Então eu e meus irmãos colocávamos água numa vasilha, misturávamos açúcar e deixávamos do lado de fora. Pela manhã corríamos para chupar o gelo.
Esse começar de novo levou-o a conhecer Mato Grosso. Queria tentar mais uma vez e, com meu irmão mais velho (depois de mim) partiu deixando minha mãe com cinco filhos. Levava a esperança de encontrar boa terra e arranjar uma colocação por lá. Voltaria depois e levaria a família.
Eu já era casada nessa época e por isso meu pai não me viu grávida e quando retornou meu primogênito já havia nascido. Foi muito bom vê-lo de novo, mas era fácil reconhecer de que sua saúde não estava tão bem e que mais um sonho se desvanecera. Mas, bastou melhorar um pouco para mais uma nova tentativa de melhorar de vida. Dessa vez, Sumaré, estado de São Paulo era seu destino e mais uma vez com Adilson, o segundo filho.
            Não me recordo exatamente quando vi meu pai, pela primeira vez tocando um violão. Só lembro-me de como fiquei fascinada pelo instrumento. Então disse para mim mesmo: um dia tocarei violão.