segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sinais que antecederam o Alzheimer

Dois anos antes do diagnóstico, algumas situações incomuns aconteceram. Primeiro ele quase não falava. Mais ouvia, raramente emitia sua opinião. Vez ou outra queixava-se de "esquecimento", mas achava que era a idade que avançava. Estava co m setenta e cinco anos. Realmente essas falhas acontecia com mais frequencia. Um dia ele amanheceu com dores abdominais, depois diarreia ao que o médico diagnosticou como uma virose. Tomava os medicamento, mas nada adiantava, ao contrário, só piorava, não tomava os remédios nem a água tão necessária naquele momento. Emagreceu muito e enfraqueceu também. Foram incontáveis idas e vindas a Pronto Socorro e hospitais.  Numa das vezes em que ele passou muito mal com essas dores e  diarreia forte, minha mãe me ligou e pediu que fosse até lá. Fui e o encontrei sentado na beirada da cama, triste. Pedi a benção, como faço desde criança e perguntei o que realmente estava acontecendo, o que o deixara assim tão triste. Entre algumas reclamações que fez, ele me disse sobre a dificuldade de estar juntos às pessoas, pois quase sempre ele não compreendia a conversa e isso o deixava muito mal. Voltamos com ele ao médico e apesar da internação, voltou par acasa e piorou. Era domingo bem pela manhã e recebemos o telefonema de meu irmão caçula, chorando e dizendo que o pai dissera que chegara ao fim, não queria ir ao médico, pois sabia que a morte aproximava. Pedi que trouxesse ao Hospital das Clínicas e que encontraria com eles lá. Enquanto ele passava pelo tendimento, acompanhado de minha mãe, eu e meu irmão caçula (pastor) fomos para um canteiro e conversamos sobre nosso pai. Oramos e pedimos a direção de Deus. Choramos. Ao meio dia, teve alta. Providenciamos os remédios e fui com ele para casa. Com muito carinho, nós os filhos conversamos com e pedimos que tomasse a medicação prescrita. Dessa vez ele atendeu e sarou.

Era uma tarde quente de domingo. Como de costume, estávamos todos reunidos na cozinha da casa de meu pai. Uma mesa farta. É assim todo domingo. Depois das três da tarde começam a chegar os filhos, noras , netos e bisnetos para o café da tarde. Nunca faltam aquele bolo, de massa branca como diz minha mãe, e o pão que ela ama fazer e o cafezinho fresquinho, delicioso ao som de conversar e boas risadas. oi aí que de repente vi meu pai levar a mão à boca toda torta, em seguida tentar levantar-se, mas sua mão esquerda não atendia aos movimentos solicitados. Foi aí que pedi até que com calma para minha irmã ao lado ajudá-lo e em seguida pedi ao meu marido que corresse para um hospital. Na minha ignorância, meu pai estava tendo um AVC.

Alzheimer - Os remédios

Quando a médica que acompanha meu pai (não é geriatra, mas clínica) no grupo de pessoas hipertensas, percebeu seu "esquecimento" pediu que fizéssemos consulta com um neuro e que  certamente pediria exames neurológicos para ver o que estava acontecendo. Meu pai e minha mãe são dependentes meus como servidora pública, no IAMSP, é um sistema que não atende em nossa região a todas as especialidades e muitos exames  são feitos em São Paulo no Hospital do Servidor. Como estava difícil alguém de nós irmos a São Paulo, um irmão pagou a consulta, os exames e remédios foram rateados entre os demais irmãos e o diagnóstico do neuro é que  meu pai estava com a memória fraca, que a tendência era continuar e que poderia ser um problema hereditário. Receitou o qual compramos, mas que não ajudou em nada. O tempo passou e com o diagnóstico da Doença de Alzheirmer a neuro receitou outros remédios. Remédios que ajudam, retardam os sinais, faz com que ele tenha mais qualidade de vida. Custam caro. Na primeira vez, minha mãe recorreu à Poupança, mas era pouco, não daria para muitos meses. Na segunda vez os filhos ajudaram. Os remédios dão para um mês. Fomos na farmácia de alto custo, e eles disseram que o remédio que o Estado fornece é em comprimido.A neuro já havia nos alertado sobre isso. O comprimido provoca efeitos colaterais que aumentaria o sofrimento dele. Um dos remédios receitados pela neuro é em adesivo, justamente para evitar essas reações e esse é mais necessário. Diante do não da farmácia (que  nos doou uma caixa de adesivo, pois alguém  fizera a doação depois da morte do paciente), ficamos desorientados e preocupados. Mas como sempre a dificuldade foi apresentada a Deus que prontamente nos ajudou. No meu último dia de trabalho (me aposentei), uma professora da escola, também advogada me perguntou como estava a minha família, mais precisamente o meu pai, pois ela tem vários clientes que tem familiares com a doença e sabe da dificuldade com remédios, alimentação específica e fraldas (estágio final) e prontamente me orientou como agir no município onde ele mora. Agradeci muito a essa moça que creio ser enviada por Deus para nos ajudar. Fui atrás da neuro peguei o laudo, receitas, e as cópias dos documentos pessoais de meu pai e da minha mãe, pois é ela que tem que fazer o pedido. Meu irmão a levou à Defensoria Pública de Sumaré, município em que residem e já foi tudo encaminhado e aguardamos a resposta em um prazo de trinta dias.

Alzheimer - A reação dos filhos

Convivendo com meu e vivenciando todas as falhas, esquecimentos e conhecendo algumas pessoas portadoras desse mal, suspeitava que meu querido também era portador da Doença de Alzheimer. Às vezes eu meus conversávamos e falávamos das nossas suspeitas. Quando foi diagnosticado a doença, não foi propriamente uma surpresa, mas não posso dizer que foi menos dolorosa a confirmação dela. Como irmã mais velha, recomendei a cada um que fizesse pesquisa, que procurasse saber mais sobre a doença. E foi isso que aconteceu, todos procuraram sabeu um pouco mais. Marquei um dia em que todos pudessem estar juntos (menos o Ronaldo que mora em Mato Grosso, mas que mesmo assim acompanha tudo), inclusive um primo que mora na casa dos fundos e que ajuda a cuidar do meu pai fazendo-lhe a barba periódicamente, para conversarmos sobre o assunto. Fomos então para a casa da Rose e com o computador, lemos algumas matérias e discutimos sobre o Alzheimer. Ficamos chocados com cada fase da doença. Mas terminamos a reunião com algumas decisões importantes tomadas. A primeira delas, unânimes para todos nós, é que estávamos dispostos a passar por tudo isso com muita serenidade e confiança no Deus ao qual servimos, amamos e confiamos. A segunda delas é cuidar da nossa querida mãe que vimos o quanto a doença refletiu nela trazendo envelhecimento e perda de peso, procurando facilitar o trabalho e zelar pela sua saúde, mostrando a ela que estaremos sempre ao seu lado, dando carinho e presença sempre. A terceira decisão é que custe o que custar, não deixaremos de adquirir os remédios receitados pela neurologista, Dra. Mônica que cuida dele com muito respeito. A quarta decisão foi que meu irmão Ivan, que tem maior disponibilidade de tempo, passaria algumas horas com meu pai cuidando dele, fazendo caminhadas, levando-o para cuidar de uma horta que ele cuidava antes do diagnóstico. Daríamos mensalmente uma quantia a ele. A quinta e última decisão é que nos reuniríamos de tempos em tempos para avaliarmos nossas ações e as necessidades surgidas.

Alzheimer - A reação de minha mãe

Minha Mãe. Uma pessoa generosa. Generosidade, hospitaleira, organizada, cozinheira, zelosa, brava. Cresci vendo minha mãe ajudar as pessoas. Cresci dividindo tudo com meus seis irmãos e mais tarde dividindo a atenção dela com os primos que vieram tentar a vida na cidade grande (Campinas) e ela os aceitava oferecendo espaços nas beliches do quarto (um só para quatro rapazes) dos meninos. Também veio a Zânia que consideramos irmã, além da fé, e os filhos dela têm minha mãe como avó. Fim de semana sempre foi de festa. Quando os meninos eram solteiros, os jovens da igreja baixavam acampamento em casa. E ela sempre preparando a melhor comida, o melhor lanche. Mesa farta. Sua  casa sempre foi de uma limpeza de brilhar. Todos os espaços cheiram limpeza, até a roupa no varal tem perfume de roupa bem lavada. Seus panos de prato são alvos como a neve!  Sempre zelou pela nossa educação secular e cristã. Mulher crente, fiel ao serviço do Senhor. Como hospitaleira, em casa ela e meu pai sempre fizeram questão de receber os pastores, suas famílias com muito carinho. Mas pensa numa mulher brava! Não pise na bola com ela. Sua palavra é garantia. Então o que disser a ela deverá ser verdadeiro. Gosta de conversar, fala alto e chama atenção na hora em que achar que deve, e doa a quem doer. Cozinheira de mão cheia tornou-se boleira e salgadeira. Fez disso um complemento de renda familiar. Tudo que deseja possuir, seja um móvel novo, uma reforma na casa, uma roupa nova, um presente, tudo sai de seu trabalho com bolos e salgados. Levanta cedo e vai dormir tarde. Se vai para a frente da televisão, leva seu crochê onde tece lindos tapetes. Meu pai sempre apresentou um saúde mais frágil e ela sempre cuidou muito bem dele. Parecia lidar muito bem com as falhas de memória dele. Preocupada fez tudo para que os exames neurológicos (pagos) fossem realizados, comprou medidor de pressão e passou a medir a pressão dele diariamente. Todos os remédios receitados, foram comprados e dados a ele. Quando o terreno vizinho onde meu pai plantava foi vendido, ela saiu a procura de um novo espaço para ele mexer com a terra. Nas internações (foram duas), acompanhou tudo, chorou, sofreu. Pouco falávamos na possibilidade do Alzheimer, mas quando acontecia ela não acreditava. Essa mulher trabalhadora, forte, recusou a aceitar o diagnóstico. Primeiro veio o choro, depois a incredulidade: - " Eu não aceito! E acabou". Foram dias difíceis. Como filha mais velha, coube a mim dizer "algumas verdades" (com muito amor) de como seria a vida dali em diante e de quanto ela poderia contar com a ajuda dos filhos.