segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Alzheimer - A reação de minha mãe

Minha Mãe. Uma pessoa generosa. Generosidade, hospitaleira, organizada, cozinheira, zelosa, brava. Cresci vendo minha mãe ajudar as pessoas. Cresci dividindo tudo com meus seis irmãos e mais tarde dividindo a atenção dela com os primos que vieram tentar a vida na cidade grande (Campinas) e ela os aceitava oferecendo espaços nas beliches do quarto (um só para quatro rapazes) dos meninos. Também veio a Zânia que consideramos irmã, além da fé, e os filhos dela têm minha mãe como avó. Fim de semana sempre foi de festa. Quando os meninos eram solteiros, os jovens da igreja baixavam acampamento em casa. E ela sempre preparando a melhor comida, o melhor lanche. Mesa farta. Sua  casa sempre foi de uma limpeza de brilhar. Todos os espaços cheiram limpeza, até a roupa no varal tem perfume de roupa bem lavada. Seus panos de prato são alvos como a neve!  Sempre zelou pela nossa educação secular e cristã. Mulher crente, fiel ao serviço do Senhor. Como hospitaleira, em casa ela e meu pai sempre fizeram questão de receber os pastores, suas famílias com muito carinho. Mas pensa numa mulher brava! Não pise na bola com ela. Sua palavra é garantia. Então o que disser a ela deverá ser verdadeiro. Gosta de conversar, fala alto e chama atenção na hora em que achar que deve, e doa a quem doer. Cozinheira de mão cheia tornou-se boleira e salgadeira. Fez disso um complemento de renda familiar. Tudo que deseja possuir, seja um móvel novo, uma reforma na casa, uma roupa nova, um presente, tudo sai de seu trabalho com bolos e salgados. Levanta cedo e vai dormir tarde. Se vai para a frente da televisão, leva seu crochê onde tece lindos tapetes. Meu pai sempre apresentou um saúde mais frágil e ela sempre cuidou muito bem dele. Parecia lidar muito bem com as falhas de memória dele. Preocupada fez tudo para que os exames neurológicos (pagos) fossem realizados, comprou medidor de pressão e passou a medir a pressão dele diariamente. Todos os remédios receitados, foram comprados e dados a ele. Quando o terreno vizinho onde meu pai plantava foi vendido, ela saiu a procura de um novo espaço para ele mexer com a terra. Nas internações (foram duas), acompanhou tudo, chorou, sofreu. Pouco falávamos na possibilidade do Alzheimer, mas quando acontecia ela não acreditava. Essa mulher trabalhadora, forte, recusou a aceitar o diagnóstico. Primeiro veio o choro, depois a incredulidade: - " Eu não aceito! E acabou". Foram dias difíceis. Como filha mais velha, coube a mim dizer "algumas verdades" (com muito amor) de como seria a vida dali em diante e de quanto ela poderia contar com a ajuda dos filhos.

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